Agropecuária | Publicada em 24/05/2018
O agronegócio brasileiro tem motivos para se preocupar com a imposição de sanções econômicas dos Estados Unidos contra o Irã. Como tem peso na pauta de exportações para os iranianos, pode sofrer os efeitos de restrições à economia do país do Oriente Médio, dizem especialistas e representantes de entidades.
A relação entre americanos e iranianos vem ficando mais tensa há duas semanas, depois que o presidente Donald Trump anunciou a saída do acordo nuclear de 2015 e a retomada de sanções contra o país. E enquanto nações europeias signatárias do acordo - França, Alemanha e Reino Unido - ficaram contra a decisão e tentam conter o incêndio diplomático, o governo americano coloca mais combustível nas labaredas.
Na segunda-feira (21/5), o secretário de Estado, Mike Pompeo, disse que o governo Trump está preparando o que seriam as sanções mais duras da história. O objetivo é impor ao Irã um acordo com 12 condições que, se não forem cumpridas, seriam causa de uma "pressão financeira sem precedentes", que levariam o país do Oriente Médio a "lutar para manter sua economia viva".
Com relações diplomáticas com o Irã desde 1903, o Brasil apoiou o acordo nuclear fechado em 2015. Considerou uma conquista da diplomacia internacional. O comércio com o país vinha se fortalecendo nos últimos anos, com o Irã "se tornando um importante parceiro", afirma o Ministério das Relações Exteriores em seu site oficial.
A agropecuária reflete isso. Segundo o Ministério da Agricultura, em 2014, as exportações do setor para o Irã somaram US$ 1,46 bilhão. Em 2015, o valor chegou a US$ 1,66 bilhão, passando para US$ 2,13 bilhões em 2016 e US$ 2,29 bilhões em 2017. A postura do governo Trump pode esburacar esse caminho de crescimento.
"Há motivos sim de preocupação. O agronegócio tem um peso grande na pauta de exportações do Brasil para o Irã", avalia Tatiana Palermo, que foi secretária de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura entre 2011 e 2016.
Ela explica que eventuais medidas do governo Trump teriam fundamentalmente dois efeitos. Um é reduzir atividade econômica e o poder aquisitivo iraniano. Outro é restringir negócios de outros países com o Irã via sistema financeiro internacional.
Para o agronegócio brasileiro, de modo geral, o risco maior seria o das vendas para o país voltarem aos níveis de 2014, diz Tatiana. Entre os principais produtos da agropecuária que o Irã compra do Brasil, estão milho, soja e carne bovina. Há também exportações de menores quantidades de outros produtos agrícolas, como fumo e café.
Na carne bovina, o Irã foi o terceiro maior mercado para o produto brasileiro em 2017, atrás de Rússia e China. A indústria de carne registrou alta de 40% no volume embarcado (133 mil toneladas) e 8% na receita (US$ 559,25 milhões) em relação a 2016.
Fábio Medeiros, gerente do programa Carne Angus, da Associação Brasileira de Angus, pondera que o efeito sobre esse comércio depende do grau das sanções a serem impostas pelos Estados Unidos. Ele defende que o Brasil se mantenha imparcial.
"O Irã é um parceiro estratégico e de grande relevância para a exportação brasileira. O Brasil deve primar pela manutenção desse mercado e se posicionar de forma imparcial frente as guerras comerciais dos Estados Unidos", avalia Medeiros, que conversou com a reportagem durante viagem a Shangai, onde participou de iniciativas de promoção da carne brasileira na feira de alimentos Sial China.
Representantes da indústria, a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec) e Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) não atenderam o pedido de Globo Rural para comentar o assunto até o fechamento da reportagem.
Fonte: Globo Rural
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