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CITROS/RETRO: Baixa oferta e demanda elevada impulsionam preços a recordes em 2016/17
Agropecuária | Publicada em 10/01/2017
Segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o impulso veio da combinação de baixa produção de laranja com demanda aquecida, tendo em vista os estoques reduzidos de suco na indústria.
Prevendo uma quantidade limitada de fruta ao longo da safra 2016/17, processadoras paulistas adiantaram as aquisições para março, três meses antes do período usual nas últimas temporadas. Os valores pagos no spot e por meio de contratos de um ano atingiram as máximas nominais de toda a série do Cepea, iniciada em 1994.
Na média parcial da temporada (de julho/16 a dezembro/16), o preço pago pela laranja pera e pelas tardias nas processadoras no spot foi de R$ 22,21/caixa de 40,8 kg, colhida e posta na fábrica, forte aumento de 79,2% em relação à média do segundo semestre de 2015.
Em novembro, de acordo com dados do Cepea, as cotações atingiram R$ 26,00/cx para a laranja pera e as tardias, mas poucos citricultores aproveitaram esses patamares, já que grande parte havia comprometido a produção antecipadamente – a maioria, ao redor de R$ 18,00/cx, podendo contar com adicionais de participação no preço do suco de laranja no mercado externo.
Mesmo para a laranja precoce, normalmente comercializada a preços 25% menores que os da fruta de meia-estação, os valores estiveram altos, reforçando a elevada necessidade industrial. Na maioria das negociações, as variedades apresentaram níveis de preços semelhantes.
No mercado de mesa, a laranja pera chegou a ser comercializada a mais de R$ 40,00/cx de 40,8 kg, na árvore, em novembro; na média daquele mês, a variedade foi cotada a R$ 34,66/cx, recorde nominal e expressivo aumento de 112% em relação a nov/15. No segundo semestre, a variedade foi negociada na média de R$ 32,82/cx de 40,8 kg, na árvore, significativa alta de 97,3% em relação à segunda metade de 2015.
Os preços da lima ácida tahiti também permaneceram elevados durante praticamente o ano todo, atingindo recordes nominais, de acordo com pesquisas do Cepea. Mesmo no período de pico de oferta (janeiro a março), as cotações se sustentaram a níveis altos, refletindo a forte demanda industrial. Além disso, pesquisadores do Cepea indicam que a intensificação das exportações reduziu significativamente a disponibilidade doméstica.
Os valores da tahiti começaram a subir com força ainda no primeiro semestre (meados de abril). Mesmo não tendo ultrapassado os R$ 100,00/cx de 27 kg, colhida, registrados em 2015, a média de fevereiro a outubro foi recorde para o período, animando produtores. Na média do ano, a tahiti foi cotada a R$ 41,82/cx, forte aumento de 57,3% em relação a 2015, em termos nominais.
A safra atual (2016/17) do cinturão citrícola (São Paulo e Triângulo Mineiro) deve encerrar com 244,2 milhões de caixas produzidas, volume 18,7% inferior ao da temporada 2015/16 e o menor em 28 anos, conforme estimativa do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) divulgada em dezembro.
A baixa produção reflete o clima quente durante o “pegamento” dos chumbinhos, em outubro de 2015 (mesmo após floradas consideradas satisfatórias). Além disso, a redução do parque citrícola nos últimos anos, decorrente da crise recente de preços, os investimentos limitados por parte dos produtores, também por conta da baixa rentabilidade, e o avanço do greening reforçam a queda no volume produzido nesta temporada.
Diante da menor produção, a colheita terminou antes do previsto em algumas regiões, entre agosto e setembro, em vez de dezembro. Para a pera temporã, o início das atividades foi adiantado, com registros de comercialização desde outubro/16.
A baixa produção de laranja no cinturão citrícola pode, ainda, praticamente zerar os estoques de passagem nas indústrias, cenário nunca antes verificado. Segundo a CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos), ao final de junho/17, o volume de suco estocado deve se limitar a pouco mais de 2 mil toneladas, o menor nível da história e bem abaixo da quantidade considerada estratégica, de 300 mil toneladas. O relatório final, porém, será publicado somente em agosto de 2017.
No mercado internacional, as perspectivas de oferta global restrita impulsionaram os preços do suco de laranja e da matéria-prima em 2016, comportamento que deve se estender no próximo ano. Em outubro, as cotações do suco na Bolsa de Nova York (ICE Futures) ultrapassaram os US$ 3.000/tonelada, permanecendo nesses patamares até o encerramento de 2016.
Assim, produtores paulistas que fecharam contratos com adicionais de participação baseados no preço externo do suco podem ser beneficiados pelos patamares elevados da commodity, ao mesmo tempo em que indústrias têm a possibilidade de comercializar o suco a valores superiores, com oportunidade de compensar a redução no volume. A desvantagem, porém, fica por conta do reajuste dos preços repassado ao varejo, que poderia limitar o consumo.
Quanto às exportações brasileiras de suco de laranja, os envios parciais (de julho a novembro) registraram leve queda. De acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), o Brasil exportou a todos os destinos 421,68 mil toneladas, em equivalente concentrado, recuo de 4% em relação ao mesmo período da safra anterior. Em receita, o resultado em dólares foi de US$ 721,89 milhões, alta de 1% em igual comparativo. Já em Reais, o montante, de R$ 2,3 bilhões, diminuiu 10%.
Na Flórida, a safra atual (2016/17) será novamente reduzida, sendo que a produção da 2015/16 já foi a menor em 52 anos. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estima que sejam produzidas 72 milhões de caixas de 40,8 kg, redução de 12% sobre a temporada passada. Esse cenário deve resultar em queda nos estoques da Flórida, o que pode elevar a necessidade de importação da commodity brasileira em um ano de baixa disponibilidade de suco no País, maior produtor mundial.
Análise retrospectiva sobre o setor citrícola elaborada pelo Cepea.
Equipe: Dra. Margarete Boteon, Fernanda Geraldini e Caroline Ribeiro.
Contato: hfcitros@usp.br
Fonte: CEPEA
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