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AÇÚCAR/RETRO: Ano é marcado por exportação e preço recordes
Agropecuária | Publicada em 10/01/2017
Os preços do açúcar cristal atingiram elevados patamares em 2016, segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Entre o final de outubro e início de novembro, o Indicador CEPEA/ESALQ (estado de São Paulo) superou os 100 reais por saca de 50 kg, nível nominal que nunca havia sido observado em toda a série histórica deste produto. Já em termos reais (deflacionados pelo IGP-DI de novembro/16), os preços do açúcar estiveram próximos dos de março de 2011, quando a média do Indicador foi de R$ 100,60/saca de 50 kg.
O impulso veio do mercado internacional, que subiu em grande parte do ano, influenciado por expectativas indicando déficit global de açúcar. Nesse sentido, o Brasil, que é o maior produtor e exportador da commodity, registrou forte ritmo de embarques no correr de 2016. De janeiro/16 a dezembro/16, segundo a Secex, foram exportadas 28,933 milhões de toneladas de açúcar, recorde histórico, superando o volume de 28 milhões de toneladas em 2010, que, até então, era o maior da série.
Usinas paulistas, inclusive, diminuíram a participação das vendas de açúcar no mercado spot, priorizando as exportações. Só no estado de São Paulo, as vendas externas de janeiro/16 a novembro/16 já superam em 7,72% o total embarcado em 2015, segundo a Secex. Este cenário acabou por fortalecer os preços internos do açúcar cristal no spot paulista ao longo do ano.
Tomando-se como base as médias mensais, de abril/16 a dezembro/16, a média do Indicador CEPEA/ESALQ do açúcar cristal, cor Icumsa entre 130 e 180, para o mercado paulista foi de R$ 87,66/saca de 50 kg, 38,1% superior à da safra passada, 2015/16, considerando o período de abril/15 a dezembro/15 (R$ 63,47/saca de 50 kg) – valores deflacionados pelo IGP-DI de novembro/16.
Oficialmente, a safra da cana-de-açúcar se inicia em abril, mas, em 2016, houve uma antecipação da colheita por parte de algumas usinas paulistas já em março. Assim, nos primeiros meses da temporada 2016/17 (de março/16 a maio/16), os preços do açúcar estiveram em queda, mas ainda se mantiveram em patamares acima dos observados nos mesmos meses da safra anterior (2015/16). A partir de junho, as estimativas indicando déficit global de açúcar impulsionaram os valores, que superaram os 100 reais/saca em outubro. Já em novembro, as cotações perderam o ritmo de alta e passaram a registrar pequenas quedas diárias, cenário que persistiu em dezembro. Vale lembrar que, geralmente, o volume de compra de açúcar entre novembro e dezembro diminui, enfraquecendo as cotações do produto.
INTERNACIONAL – Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), os preços do açúcar demerara também tiveram forte influência do comportamento do mercado brasileiro. Na última semana de setembro e início de outubro, o primeiro vencimento de Nova York esteve na casa dos 23 centavos de dólar por libra-peso, o maior patamar em quarto anos, devido, especialmente, a estimativas indicando primeira temporada de déficit global de açúcar (2015/16), após cinco safras de oferta superando a demanda.
Já a partir do final de outubro, liquidações de posições compradas por partes de fundos voltaram a pressionar as cotações do demerara. Mesmo com as cotações tendo voltado a casa dos 18 centavos de dólar por libra-peso em dezembro/16, estas ainda superam as observadas em dezembro/15, quando estavam por volta de 14 a 15 centavos de dólar por libra-peso.
ÍNDIA – Principal consumidor mundial de açúcar, a Índia aumentou as importações do produto brasileiro em 2016. Segundo a Secex, de janeiro/16 a novembro/16, o país indiano importou 2,255 milhões de toneladas do adoçante, volume 48,53% superior ao adquirido em todo 2015 (1,518 milhão de toneladas). A China era o principal comprador do açúcar brasileiro desde 2012, mas perdeu a posição em 2016 para a Índia. Na última temporada (2015/16), a Índia passou por adversidades climáticas, como atraso nas chegadas das monções, resultando em perda da produtividade e na menor área plantada de cana-de-açúcar.
NORDESTE – O déficit hídrico prejudicou a produção da cana-de-açúcar na região nordestina e influenciou o término antecipado da moagem na safra 2015/16. Em fevereiro do ano passado, várias usinas já haviam finalizado a moagem, sendo que, geralmente, o encerramento é verificado entre março e abril. Neste contexto, com a baixa oferta na entressafra, muitas unidades produtoras finalizaram seus estoques antecipadamente. A demanda ficou retraída até maio, influenciada principalmente pela entrada do açúcar da região Centro-Sul no mercado nordestino. A partir de junho, a oferta e estoques estavam ainda mais reduzidos, mas a demanda se aqueceu e os valores subiram, devido à alta dos preços no Centro-Sul.
Já em setembro, com a entrada da nova safra 2016/17, os preços começaram a cair, mas, entre a segunda quinzena de setembro a outubro, os valores voltaram a subir, impulsionados pelas altas internacionais e pelas valorizações no spot paulista. Além disso, algumas usinas também priorizaram as exportações, diminuindo a oferta do produto no spot nordestino e elevando as cotações. De novembro em diante, a demanda permaneceu retraída e os preços se enfraqueceram novamente. Algumas usinas cederam nos valores das ofertas para “fazer caixa”, enquanto outras unidades mais capitalizadas ficaram fora do mercado interno, priorizando as exportações.
Na parcial da safra 2016/17 (de setembro/16 a dezembro/16), em Alagoas, o Indicador do Açúcar Cristal CEPEA/ESALQ teve média de R$ 94,67/sc de 50 kg, alta de 22,48% em relação ao mesmo período da temporada 2015/16, em termos reais. Em Pernambuco, a média dos quatro meses foi de R$ 93,70/sc, aumento de 23,48% na mesma comparação. Na Paraíba, a média do Indicador de setembro a dezembro foi de R$ 78,28/SC (sem ICMS), avanço de 22,16% (comparações da Paraíba realizadas sem ICMS) – considerando-se valores deflacionados pelo IGP-DI de novembro/16.
Análise retrospectiva sobre o setor açucareiro elaborada pelo Cepea.
Equipe: Dra. Heloisa Lee Burnquist, Bel. Maria Cristina Afonso, Silvia C. Michelin, Victória Cambraia Sartori e Augusto Barbosa Maielli.
Contato: cepea@usp.br
Fonte: CEPEA
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