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Defasagem no frete de grãos é de quase 40%
Agropecuária | Publicada em 19/08/2016
O frete rodoviário de grãos está defasado em pelo menos 39%. O cálculo foi feito ontem em Maringá, durante reunião de transportadores paranaenses com o engenheiro Antonio Lauro Valdívia Neto, do Departamento de Custos Operacionais, Estudos Técnicos e Econômicos (Decope) da associação nacional que representa as empresas de transporte e logística, a NTC&Logística.
Uma viagem de ida e volta de um bitrem carregado com 37 toneladas de grãos de Maringá até o Porto de Paranaguá tem um custo calculado de R$ 7.620, sem aplicação da margem de lucro. Mas o valor praticado hoje no mercado é de R$ 4.625, segundo as simulações feitas na planilha do engenheiro. A diferença é de 39,3%.
O cálculo feito por Valdívia Neto leva em conta o tempo parado médio de um dia para carregamento e um dia para descarregamento. Se esse tempo caísse para meio dia em cada situação, o valor do frete pela tabela da NT&Logística cairia de R$ 7.620 para R$ 5.288 (30% menos). "É preciso ficar bem claro que o transporte no País é encarecido pela falta de infraestrutura nas empresas e nos portos. O veículo é um prestador de serviços e todo prestador de serviço trabalha com tempo. Se ficar parado na carga e descarga sobra pouco tempo para fazer efetivamente o transporte", ressalta.
O engenheiro explica que o custo fixo do caminhão é rateado pelo número de viagens que ele faz. "Quanto mais ele fica parado, menos viagens tem para ratear o custo fixo. E aí que o transporte acaba encarecendo", alega.
O coordenador da Câmara de Agronegócios da NTC&Logística, Geasi Oliveira, admitiu que o setor não tem "cultura de fazer contas". "Calculamos o combustível, o pneu, o salário do motorista, mas deixamos de lado outros custos que parecem invisíveis, mas são reais", afirmou. A depreciação da frota, por exemplo, é um custo que não costuma aparecer nas planilhas das empresas, segundo ele.
Sem incluir todos os custos na planilha, de acordo com Valdívia Neto, a médio prazo, as empresas estão fadadas a fecharem suas portas. O problema é que, conforme ele explica, a cadeia de transporte rodoviário de carga no Brasil é complexa e os clientes sempre conseguem encontrar quem faça o frete mais barato. "Os embarcadores espremem as empresas de transporte. Se elas se recusam a fazer um valor mais baixo, eles procuram os motoristas autônomos. Sempre vai ter quem aceite", salienta.
A reportagem questionou o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte do Oeste do Paraná (Sintropar), Luís Carlos Zanella, sobre como as empresas estão sobrevivendo com uma defasagem tão grande no frete. Ele afirma que muitas estão quebrando. "Às vezes, a empresa olha só o custo imediato e quando se dá conta, quando chegam os demais custos, acaba entrando em dificuldade e tendo de fechar as portas", declara.
Algumas delas, segundo Zanella, acabam se utilizando de manobras fiscais e colocando os motoristas para trabalhar além do limite legal para fechar as contas. Pesquisa recente da NTC&Logística apontou que 50% das transportadoras estão com impostos em atraso.
A reunião de ontem serviu para o engenheiro Valdívia Neto coletar dados para atualização da tabela referencial do segmento, feita há dois anos. A diferença entre o frete correto e o praticado pelo mercado foi calculada com base na tabela antiga. A nova ficará pronta nos próximos dias. "Vamos atualizar nossa planilha de custo para ter parâmetros para negociar com nossos clientes. Sabemos que é um trabalho árduo. Vamos fazer uma ampla divulgação desta tabela com os valores que o transporte do agronegócio necessita para manter a empresa em atividade. Nem estamos falando de lucratividade", ressalta Geasi Oliveira, que também é superintendente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Maringá, o Setcamar.
Fonte: Folha de Londrina
Autor: Nelson Bortolin
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