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Estudo propõe carne livre de antibióticos
Agropecuária | Publicada em 12/08/2015
A comercialização de carnes livres de antibióticos com valor agregado em supermercados é uma proposta apresentada pela pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Realizado em parceria com a Universidade de Guelph, no Canadá, o estudo analisa desde o ano passado a influência dos antibióticos na produção de aves, suínos e bovinos e as consequências na alimentação humana. Na universidade canadense é que é feito o sequenciamento genético das bactérias das amostras coletadas nos animais na região de Londrina.
Formado em medicina veterinária pela UEL, o pesquisador Márcio Costa fez doutorado no Canadá e retornou ao Brasil pelo programa federal Jovens Talentos para dar continuidade ao trabalhado iniciado na América do Norte. "Assim como no Canadá, esse estudo também é pioneiro no Brasil e usa o sequenciamento genético, que ainda é muito caro no nosso País, para análise dos efeitos dos antibióticos e das bactérias, que são mais importantes do que acreditávamos antes do acesso a essa nova tecnologia. Para cada célula, há 10 bactérias no corpo humano", explica.
Costa lembra que os antibióticos, alvo da pesquisa, são responsáveis por uma revolução na área da saúde devido ao tratamento das infecções, mas faz a ressalva de que o uso excessivo pode desenvolver bactérias resistentes e alterar a microbiota dos animais, mais conhecida como flora intestinal. "Do lado positivo, as bactérias são essenciais para defesa e mudanças podem estar relacionadas a problemas como obesidade, diabetes e alergias", comenta. "Atualmente, 70% da produção de antibióticos são voltados para animais, entre eles, bovinos, suínos e aves", acrescenta.
OBESIDADE
Na Fazenda da UEL, grupos de porcos e frangos são tratados com antibióticos, enquanto outra parte dos animais permanece sem o medicamento. O mesmo ocorre com o gado que fica em uma fazenda na região de Londrina. Após a coleta das amostras dos dois grupos, o material é levado para a universidade no Canadá.
O pesquisador esclarece que ao contrário do que acontece com os hormônios, os antibióticos são permitidos para controle da produção e também para o ganho de peso antes do abate com bactérias mais eficazes na extração da energia durante a alimentação dos animais. "Estudos avaliam a presença de antibiótico na carne consumida por conta do uso na produção e os possíveis efeitos colaterais. Além disso, existe uma teoria que relaciona o aumento da obesidade na população a partir da década de 1940, quando o antibiótico passou a ser utilizado nos animais para corte", aponta.
Costa sugere a entrada de carnes no mercado sem a presença de antibióticos, o que já ocorre no Canadá, nos Estados Unidos e em países europeus. "Não há essa opção no Brasil e existe a demanda no País por uma alimentação mais saudável. Sem antibióticos, a produção pode cair de 5% a 10%, mas é possível agregar valor ao produto com um preço mais alto, além do marketing. Os produtos convencionais podem dividir espaço com as carnes livres de antibióticos", analisa. Ele ainda acredita que a "pressão" por esse tipo de produto deve aumentar no Brasil nos próximos anos, pois leis que proíbem o uso de antibióticos nos animais já são discutidas pela União Europeia e Estados Unidos.
INFECÇÃO HOSPITALAR
Outra possibilidade investigada pela equipe é se existe relação entre o uso de antibióticos nos animais e as infecções hospitalares provocadas pelas bactérias multirresistentes aos medicamentos. "Os animais defecam no meio ambiente e a maioria das bactérias se encontra no intestino. Estamos investigando se isso pode contaminar as áreas de produção agrícolas e pessoas e se esse processo influencia o fator multirresistente das bactérias em hospitais, o que provoca cerca de 700 mil mortes em todo o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde)", adianta. A FOLHA procurou o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos Para Saúde Animal (Sindan) para comentar o uso de antibióticos em aves, gados e suínos, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Rafael Fantin
Fonte: Folha Web
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