Agropecuária | Publicada em 20/03/2015
A 40 dias do início da Agrishow 2015, a aposta é impulsionar o desenvolvimento tecnológico e mercadológico da agricultura. Em um cenário de economia retraída e alta nos juros, o grande desafio deste ano será manter os negócios.
Para esta edição, a expectativa é receber 160 mil visitantes, mesmo número de 2014 - ano em que a feira já não registrou alta no volume de negócios, por conta da crise no setor sucroalcooleiro.
“Existe uma tendência de que o desempenho do ano passado se repita. A agricultura não é um setor desconectado do resto da economia, portanto, sente o impacto desse ritmo mais lento”, explica Roberto Fava, professor da Faculdade e Economia Administração e Contabilidade de Ribeirão (FEA-RP/USP).
Os valores referentes à movimentação de negócios ainda não foram divulgados e devem ser apresentados na próxima semana, quando acontecerá o lançamento oficial da Agrishow 2015. Mas, o que normalmente espera-se para o evento é uma melhor condição de financiamento junto aos bancos, com juros baixos, e medidas de incentivo do governo para o setor.
Oportunidade
Ainda segundo Fava, o cenário de aumento nos custos também pode trazer oportunidades de bons negócios na feira. “Uma alternativa para driblar esse momento é investir em tecnologia. Acredito que essa será a aposta da feira deste ano.”
Para Carlos Sanches, gerente agronômico da expositora Netafim, a participação na feira é uma oportunidade para trocar conhecimentos e fazer contatos. “De pequenos até grandes produtores, que estão interessados em conhecer novas tecnologias que contribuem para produtividade e sustentabilidade.”
A empresa John Deere é outra que reconhece a importância da Agrishow e por isso, prepara novidades. “Estaremos com um amplo portfólio de máquinas, com soluções voltadas a todos os tipos de agricultores”, afirma a empresa.
Tecnologia
Para Fabio Meirelles, presidente da Agrishow e também presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), o evento tem uma contribuição importante para o aprimoramento da tecnologia no campo, com o objetivo de obter maior e melhor produtividade e redução de custos.
“Isso pode ser mensurado pelo relevante papel desempenhado pela agricultura na economia de nosso país e pela responsabilidade que temos em produzir e ampliar ação junto ao mercado exterior e exportar alimentos para o mundo”, explica.
Negócios impulsionados
Segundo Fabio Meirelles, presidente da Agrishow, a feira assumirá, novamente, o protagonismo para o desenvolvimento mercadológico do setor em um cenário pouco otimista.
“Este ano representa um grande desafio aos produtores rurais e empresários do agronegócio. E, historicamente, a feira sempre impulsionou a realização de negócios, levantando o ânimo do setor e fomentando novos investimentos”, destaca.
Em edições anteriores, a exposição foi palco de anúncios governamentais importantes, como em 2011, com a entrada de uma linha de financiamento para grandes máquinas colheitadeiras, dentro do Programa Mais Alimentos, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Para Meirelles, esses anúncios apenas reforçam a importância econômica da Agrishow e seu posicionamento como difusor de novidades, tecnologias e tendências.
Produtor alerta para custos elevados
Além dos grandes lançamentos em equipamentos e tecnologias, a Agrishow 2015 também promete trazer soluções e alternativas para os pequenos produtores. E entre os mais interessados estão os produtores de cana-de-açúcar, que vêm sofrendo com as exigências de técnicas de plantio, que acabam aumentando os custos da produção e dificultando os negócios.
O produtor de cana-de-açúcar e presidente da Associação Rural Vale do Rio Pardo (Assovale) Tomaz de Aquino Lima Pereira alerta sobre as dificuldades que os pequenos produtores de cana da região de Ribeirão Preto têm passado.
“Esse pequeno produtor representa 90% do setor de fornecedores de cana e está sendo eliminado”, afirma.
Isso ocorre, segundo ele, por conta de regulamentações que acabam inviabilizando a continuidade das operações do pequeno agricultor, que geralmente trabalha com familiares.
“Eles não conseguem se adaptar às obrigações, como o alto custo de maquinários. Uma frente de trabalho fica entorno de R$ 6 milhões, por exemplo”, explica ele.
Para Pereira, o que não pode acontecer é esse pequeno produtor se enfraquecer e desistir de continuar sua produção.
“A maioria quebra. Já outros veem que não tem sustentabilidade e são forçados a arrendar a terra para as grandes indústrias”, comenta. “E arrendar é ter a visão do dinheiro, e não do trabalho”, reforça.
De acordo com Pereira, a única maneira de reverter essa situação é lançar novos projetos para o pequeno produtor e dar uma maior abertura a eles. “Com orientação e tempo para eles se adaptarem”, conclui o produtor.
Cautela é ‘palavra de ordem’
Neste ano, todos os investimentos serão relativamente baixos. Passaremos por um longo período sem crescimento, de estabilização. Temos um cenário de inflação, alta nos juros e preços de commodities baixos, mesmo com uma recuperação da economia norte-americana e alta nas taxas de câmbio. Vendo a economia como um todo, não há otimismo, todo setor produtivo está mais cauteloso neste ano, mesmo o setor sucroalcooleiro, que começou o ano com incentivos. Por todos esses fatores, acredito que, neste ano, a Agrishow consiga manter o mesmo patamar em relação a 2014, sem altas.
Rudinei Toneto Junior
Professor da FEA-RP/USP
Fonte: A Cidade
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