Agropecuária | Publicada em 02/02/2015
As empresas de São Paulo e Rio de Janeiro, Estados responsáveis por mais de 40% da economia do país, se preparam para um ano de produção reduzida e custos elevados diante da dupla crise de abastecimento à espreita. Empresários e economistas antecipam prejuízos caso o cenário de falta de água e energia se concretize. Para a maior parte das companhias, não há "plano B" suficiente. "A água é bomba estourada, o problema já existe. Há uma chance enorme de a crise da energia chegar. A mistura das duas cria um clima de muita intranquilidade", diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Para analistas, a economia será gravemente impactada se o racionamento vier --seja ele qual for. O banco Credit Suisse calcula que a restrição de energia tire pelo menos um ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto) --uma queda de 0,5% viraria uma recessão de 1,5%. A conta prevê corte de 10% da energia por um ano. Em 2001, o governo impôs redução de 20% por sete meses. A Gradual Investimentos estima que o racionamento de água em São Paulo tire outro ponto do PIB, com o aumento de custos e a possível paralisação de atividades. Os sinais de que uma dupla crise se avizinha vêm do próprio governo. Nos últimos dias, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, admitiu que o país pode passar por racionamento de energia, a agência responsável pela gestão de recursos hídricos avisou que poderá reduzir a captação de indústrias em São Paulo e o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, afirmou que serão as empresas as primeiras penalizadas caso falte água no Estado. A indústria química Rhodia, que possui cinco fábricas em São Paulo, teme os efeitos da falta de chuvas. A empresa investiu em equipamentos para aumentar o nível de reúso de água em sua planta em Paulínia, que produz matéria-prima para outras unidades do grupo. Lá, a água do rio é usada para resfriar o maquinário. Sem fluxo, não há como operar. Apesar do investimento, a empresa não está imune à crise caso ela seja drástica. "Se ficarmos um mês sem captar do rio, será impossível administrar com recursos internos. Teremos de usar outros artifícios, como reduzir o ritmo de produção", afirma Francisco Ferraroli, presidente da Rhodia Fibras. A companhia, que pertence à multinacional belga Solvay, já alertou às filiais da Alemanha e da Espanha que, caso haja interrupções no fornecimento de água, será preciso importar insumos. Se o racionamento de energia vier, não há alternativa senão parar. "Nossa geração a gás não é suficiente. A preocupação é grande", diz Ferraroli. O setor siderúrgico, intensivo em água e energia, está em estado de alerta. A CSA, no Rio, teve de investir num novo jogo de bombas e tubos para aumentar a captação de água do rio Guandu, que abastece a usina. Com nível abaixo do normal, o rio tem permitido que a água do mar invada seu leito. Hoje, a empresa tem uma janela de somente oito horas por dia para captar o máximo que conseguir de água doce. A empresa terá de investir pelo menos R$ 15 milhões para buscar água três quilômetros rio acima, num ponto que a água salina não chega. Metade das empresas do Estado que responderam à pesquisa da Firjan (Federação das Indústria do Rio de Janeiro) afirmam que já tiveram aumento de custos pelo problema de abastecimento. Insumo básico A pressão também vem do consumo elétrico. O preço no mercado livre de energia em janeiro é o maior desde 2001, ano do racionamento. E a previsão do Banco Central é que as tarifas sejam reajustadas em 28% ao longo do ano. Indústrias como a de alumínio, em que a energia elétrica é matéria-prima, já sofrem com o preço alto e avaliam que o efeito de um racionamento será devastador. A redução na produção será, no melhor dos cenários, igual ao corte imposto pelo governo, segundo o setor. "Não tem pra onde correr. É desanimador", afirma Milton Rego, presidente da Abal, que representa o setor. Entre o fabricantes de produtos eletrônicos, a busca por geradores cresce. "Mas não é que você vai por o gerador e passar como se nada tivesse acontecido", afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) Humberto Barbato. "Neste ano, infelizmente, vamos ter mais problemas para solucionar do que negócios para fazer." Fonte: Folha de S. Paulo
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