Agropecuária | Publicada em 03/02/2021
Estudos elaborados por pesquisadores do Cepea, com base em análise multivariada de séries temporais, apontam que um choque de 10% no preço do arroz em casca ao produtor brasileiro impacta em cerca de 7,7% no preço do próprio arroz em casca após 12 meses, e em cerca de 2,6% no preço do arroz no mercado varejista do Brasil. Se ocorrer um choque de 10% no preço da soja em grão, 4,8% chegam até o consumidor final de óleo de soja refinado. Já um choque semelhante no preço do milho em grão tende a impactar em 1,7% sobre o de frango e em 1,4% sobre os de ovos, ambos também no mercado varejista. Por outro lado, no mercado de algodão, choque no preço da pluma praticamente não afeta o de roupas no varejo. Nesta cadeia produtiva, a pluma pode ser substituída por fibras artificiais e sintéticas e em qualquer elo da cadeia produtiva (que é longa) pode haver importação e/ou exportação de seus produtos. Importante citar que essas análises foram elaboradas com dados de 2001 a 2018. Em 2020, o que se viu foram variações distintas de preços ao produtor agrícola brasileiro, em que muitas cadeias produtivas foram impactadas por elevações das paridades de exportação e de importação. O principal fator de sustentação das paridades foi a taxa de câmbio, que, de maio a outubro de 2020, ficou entre 31% e 41% acima da média do mesmo período de 2019. Também pode ser citado um deslocamento pontual da demanda doméstica, como no caso do arroz. Segundo dados do Cepea, o preço do arroz ao produtor foi o que registrou a variação mais intensa no acumulado em 2020 (102,2%), influenciado pelas paridades e por um choque de demanda. Em seguida, as variações nos mercados de soja e de milho estiveram entre 70% e 84%. No mercado de soja, os movimentos foram próximos. Assim, as variações nos preços no porto de Paranaguá (PR) (73,2%), nos valores recebidos pelo produtor (73,8%) e nas transações do produto limpo e seco entre as empresas (atacado) (77,4%) foram semelhantes. Já quanto ao milho, as variações percentuais foram diferentes entre os níveis ao produtor e ao atacado, assim como entre regiões para um mesmo nível de mercado. Na média, os preços ao produtor subiram 84,1%, enquanto os do mercado de atacado (lotes), 69,1%, e os da região de Campinas (SP), 56,4%. No mercado de milho, as condições de oferta e demanda região impactam suas cotações no curto prazo. Os preços do trigo, influenciados especialmente pela paridade de importação, tiveram altas expressivas em 2020, com variações acumuladas de 59,5% ao produtor e 56,4% no mercado atacadista. Os avanços internacionais e dificuldades de aquisições na Argentina deram o tom altista. Os valores de algodão foram pressionados negativamente no início da pandemia, devido à menor produção industrial, mas passaram a se sustentar no segundo semestre, com a retomada das atividades econômicas no Brasil e no mundo, acumulando quase 50% de alta em 2020. Por outro lado, numa cadeia voltada para o mercado interno principalmente como mandioca, pesaram mais os eventos domésticos. Os preços da raiz para indústria no Centro-Sul do País tiveram quedas praticamente até agosto de 2020, mas voltaram a apresentar recuperação nos meses seguintes. Mesmo assim, na média, o ano se encerrou com preços nominais 4,2% menores que os de 2019. Os preços de produtos agrícolas tiveram relação com a dinâmica observada no setor industrial, que se ajustava às especificidades de cada produto no que tange aos avanços e recuos ligados à pandemia. Considerando-se alguns mercados como exemplo, dados do IBGE apontam um salto na produção industrial referente a “beneficiamento de arroz e fabricação de produtos de arroz” até meado de 2020, comparativamente a 2019, e queda mais intensa na “preparação e fiações de fibras têxteis” no mesmo período. Em seguida, caminharam para sentidos opostos novamente. No ano, o índice da industrialização acumulou alta de 0,6%, enquanto o de fibras têxteis, queda de 2,1%. Também chama a atenção a “Fabricação de margarina e outras gorduras vegetais e de óleos não-comestíveis de animais”, com ritmo intenso de produção desde o segundo trimestre do ano, acumulando alta de 10,3% no ano. Também houve crescimento nos índices dos setores de “Fabricação de óleos vegetais em bruto, exceto óleo de milho” (4,5%), de “Abate de suínos, aves e outros pequenos animais” (2,9%), “Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais” (2,0%) e “Fabricação de óleo vegetais refinados, exceto óleo de milho” (0,7%). A “Moagem de trigo e fabricação de derivados” ficou praticamente igual ao observado em 2019 (+0,1%) (IBGE). Outros setores tiveram índice industrial inferior ao observado em 2019, segundo o IBGE. Podem ser citados o “Abate e fabricação de produtos da carne” (-1,3%), “Laticínios” (-5,9%) e o de “Fabricação de produtos de carne” (-6,1%). As variações de preços ao produtor e a dinâmica industrial durante a pandemia estão correlacionados com as variações de preços observadas no mercado varejista ao longo do ano. Os preços de óleo de soja (103,8%) e de arroz (76,0%) foram os que apresentaram as maiores altas no mercado varejista. Em seguida, aparecem os setores que utilizam os coprodutos de soja e milho como ração animal e que, portanto, tiveram elevações de custos de produção, como os setores de suínos (29,6%), frangos (17,2%), laticínios (entre 16,8% e 26,9%) e de carnes bovinas (18,0%). A boa demanda interna e o intenso ritmo das exportações também sustentaram os preços desses produtos ao longo das cadeias produtivas. Os preços das farinhas de trigo também tiveram reações consideradas expressivas (15,0%), mas também abaixo da registrada para a matéria-prima. Por outro lado, os preços de pão francês (5%) e de panificados (5,0%), de forma geral, tiveram avanços próximos aos da média da inflação do mercado varejista como um todo. Entre os produtos derivados da mandioca, como farinha (11,5%) e de farinha, féculas e massas (7,3%), as variações foram menos intensas. Por fim, os preços gerais do setor de roupas tiveram quedas em relação aos de dezembro/19 (2,0%), pressionados pela menor demanda especialmente no primeiro semestre. Fonte: CEPEA
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