Agropecuária | Publicada em 23/06/2020
O executivo lembrou, porém, que isso não significa que o setor como um todo está imune à pandemia da covid-19. Há problemas em outras cadeias produtivas, sobretudo nas que são voltadas ao mercado doméstico. Segundo Sousa, o ritmo acelerado dos embarques de soja tem sido alavancado pela competitividade oferecida pela desvalorização do real ante o dólar e pela “vontade do produtor brasileiro em vender a valores recordes em real”. E ele realçou que, ao mesmo tempo, a China, principal cliente da soja brasileira, que absorve mais de 70% dos embarques do país, procurou reforçar seus estoques, que estavam baixos. “Teve um alinhamento de planetas que foi muito positivo”, afirmou. Segundo o executivo, é esperada uma queda das exportações de soja no segundo semestre, com a entrada da safra americana no mercado. “É esperado que a curva [das exportações brasileiras de soja], que está em nível altíssimo, venha a cair um pouco”, disse. Sousa observou que a China já está aumentando suas compras do grão dos EUA, onde a colheita desta safra 2020/21 terá início em agosto. Em janeiro, Washington e Pequim assinaram a primeira fase de um acordo comercial que tende a levar os chineses a novamente ampliarem as compras de produtos agrícolas americanos. Nesse contexto, Sousa disse que não teme que o Brasil, que no mercado de soja foi beneficiado pela guerra comercial entre EUA e China, deflagrada em 2008, seja afetado se a relação entre os países voltar ao normal. Segundo ele, não haverá problemas de volume de vendas, embora os preços possam sofrer “ajustes”. Sousa observou, porém, que as boas relações comerciais entre Brasil e China têm que ser preservadas. “É muito preocupante ver oficiais do governo brasileiro insultando nosso maior cliente. E nem é muito inteligente”, disse ele em referência à China. Sousa afirmou não ver, “hoje”, risco de que declarações de membros do governo prejudiquem as exportações brasileiras, mas afirmou que isso gera cautela nos segmentos de grãos e carnes, já que “ninguém gosta de levar insulto pra casa”. Sousa afirmou que esse tipo de problema pode levar clientes a buscar outros fornecedores e lembrou que a cadeia produtiva de soja do Brasil ganhou impulso na década de 1970 justamente quando o Japão viu no país uma alternativa ao suprimento dos EUA, que em 1973 decidiu limitar suas exportações. “Temos o papel de fornecer nossos produtos, independentemente de religião, cor, raça, credo ou preferência política do país”, afirmou. Para ele, mais preocupante do que a China são as questões ambientais no Brasil, principalmente envolvendo a Amazônia. Por causa do crescimento do desmatamento no ano passado, diversos países, sobretudo europeus, voltaram a elevar o tom das críticas sobre a questão ambiental no Brasil e a ameaça de barreiras a produtos brasileiros por causa disso novamente aumentou. Para Sousa, parte do problema pode ser evitado com a efetiva implementação das regras previstas no Código Florestal, e ele lembrou que as empresas ligadas à Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) - a Cargill entre elas -, continuam respeitando o que foi acordado na moratória da soja, que não permite a compra de soja de áreas desmatadas na Amazônia a partir de 2008. “Mas sabemos que não é um protocolo que funciona 100%”, afirmou Sousa, porque sempre existe uma chance de triangulação, que é “difícil de pegar”. Enquanto as exportações brasileiras de soja tendem a perder fôlego, as de milho começarão a ganhar força com a entrada no mercado da colheita da segunda safra. As perspectivas também são boas nessa frente. Conforme Paulo Sousa, a safrinha virá com um bom volume e o excedente exportável também será expressivo. Como o grão está com preços elevados no mercado doméstico, o executivo lembrou que a entrada da colheita no mercado deverá motivar uma queda que pode ser interessante para os frigoríficos de aves e suínos do país. Embora o mercado interno esteja mais fraco, especialmente no food service, prejudicado pelas medidas de combate à pandemia, Sousa lembrou que as exportações de carnes estão fortes. A Cargill fatura cerca de R$ 50 bilhões por ano no Brasil. Fonte: Avisite
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