Agropecuária | Publicada em 01/05/2019
O recorde do superávit comercial do agronegócio em 2018, de US$ 87,6 bilhões, com exportações de US$ 101,6 bilhões, tem poucas chances de se repetir em 2019. O cenário favorável do ano passado, resultado de exportação recorde do complexo soja, de US$ 40,9 bilhões, enfrenta este ano variáveis menos auspiciosas. Apesar dos números positivos do primeiro trimestre, quando o faturamento do setor atingiu US$ 18 bilhões, 7,8% superior ao do mesmo período de 2018, por conta do aumento do volume de exportações de soja, café, milho e algodão, as vendas externas do setor dificilmente manterão esse ritmo.
Influências - "Há um conjunto de fatores influenciando o desempenho da balança comercial em 2019 e nenhum deles é positivo", afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). As projeções para as vendas externas em 2019 do complexo de soja (grãos, farelo e óleo) são de U$ 32,8 bilhões, cerca de US$ 8 bilhões a menos do obtido em 2018, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), e de 70 milhões de toneladas. O volume é inferior ao recorde do ano passado, de 83,6 milhões de toneladas de soja em grão, mas a segunda maior da série histórica. "O Brasil soube aproveitar suas vantagens competitivas", diz Daniel Furlan Amaral, economista-chefe da Abiove.
Exportação - No ano passado, 68% da safra foram destinados à exportação. Dois fatores foram decisivos para o recorde de 2018: a guerra comercial entre EUA e China, que sobretaxou a soja americana em 25% em resposta a medidas protecionistas adotadas por Washington; e a quebra de safra na Argentina, grande produtor mundial, que reduziu a oferta do produto no mercado internacional.
Mudança de cenário - Para 2019, o cenário é outro. As relações comerciais entre Pequim e Washington caminham para a normalização e a produção argentina deve retomar seus patamares históricos.
Vigor - Ainda assim, o setor mantém seu vigor. " Sem ele, teríamos um gigantesco déficit na balança", diz José Augusto de Castro. O Brasil é maior exportador de açúcar, café, suco de laranja, soja e carnes e o segundo maior de milho, que teve aumento de exportações de 34% no primeiro trimestre do ano ante mesmo período de 2018.
Desempenhos distintos - Os desempenhos desses itens serão distintos na avaliação de especialistas. Para 2019, a Conab estima uma redução da produção agropecuária em relação ao ano anterior, por conta de eventos climáticos. Andréa Adami, do Cepea, observa que o comportamento da balança comercial sucroalcooleira dependerá da dinâmica dos estoques mundiais, mas é pouco provável que supere os resultados de 2018. Quanto às exportações de café, houve alta de 10% de volume em 2018 e queda de 6% no valor. É esperada a manutenção da produção, sem aumento de preço.
Carne - As exportações de carne devem manter o ritmo, por conta do crescimento dos países asiáticos estimulado por mudança de hábitos de consumo e aumento de renda. A dúvida é em relação à recuperação das vendas de carne de aves. Questões técnicas levaram o mercado árabe a suspender as importações dos produtos brasileiros. "Esses mercados são importantes, mas a China representou 57% da nossa exportação do produto."
Inserção maior - Há grande expectativa de maior inserção do Brasil no mercado internacional, sobretudo nos países asiáticos. Os países islâmicos são hoje o terceiro maior destino das exportações do agronegócio brasileiro, de US$ 16,4 bilhões em 2018, seguido da China e União Europeia, mas as vendas ainda estão concentradas em poucos produtos. "Há potencial para diversificar a pauta", disse Ligia Dutra, superintendente de Relações Internacionais da CNA.
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